quarta-feira, dezembro 13, 2006

“Na margem”

Um economista é um “marginalista”. Que adverte que se o custo/benefício marginal de uma acção muda, ela será reavaliada.


Um economista, mais do que aquele que conhece esta ou aquela teoria, é alguém que tem uma forma peculiar de olhar o mundo. Munido da sua “lupa” especial, ele procura compreender cada escolha individual à luz dos incentivos presentes em cada situação, o que o torna especialmente atento a duas coisas: o custo de oportunidade de cada escolha tomada (que não lhe permite ignorar o valor de outras escolhas disponíveis); e a forma como uma escolha inicial se torna mais ou menos atractiva quando o seu “preço” – em sentido lato - se altera.

Pergunta teórica: o que acontecerá ao número de mortes na estrada quando o uso de cinto de segurança se torna obrigatório? A resposta popular é “diminuirá”. O economista, mais rigoroso, dirá: “depende”. O número de mortes por acidente será menor, fruto da segurança acrescida que o cinto traz em caso de acidente, mas os condutores tenderão a adoptar uma condução menos cuidadosa, dado que, na margem, os benefícios de uma condução cuidadosa diminuem quando se usa o cinto de segurança – logo, o resultado final será indeterminado.

O primeiro efeito – o “efeito volume” – será identificável por qualquer um. É o segundo efeito – o “efeito substituição” – que requer o faro típico de um economista, que lembrará que a escolha óptima do “cuidado a ter na condução”, como qualquer outra, envolverá um ‘trade-off’ entre benefícios (maior segurança) e custos (maior cansaço, menor aproveitamento da paisagem, menor interacção com os ocupantes, etc).

Outro exemplo: a descida no IRC. O “efeito volume”: descida na receita arrecadada por cada euro declarado. O “efeito substituição”: aumento no total de euros declarados, por, na margem, haver um incentivo acrescido à criação e à expansão de negócios e à declaração daqueles anteriormente “informais”. O efeito final: indeterminado. Um economista sublinharia que a actividade económica declarada (como a condução menos cuidadosa) se tornou “relativamente mais barata”.

Um economista é, portanto, um “marginalista”. Que adverte que se o custo/benefício marginal de uma acção muda, ela será reavaliada. Que sabe que a Economia é menos previsível que a Física. Que lembra que é por muito se poder perder, e por muito se poder ganhar, que tudo necessariamente se reequaciona e tudo potencialmente se transforma.