Sob o signo do Aforismo
O pendor narcisista do filósofo, professor catedrático, leva-nos a Gilbert Cesbron. [...] Os episódios da campanha de Carrilho exigem La Rochefoucauld.
Em pleno Verão, permitam-me a ligeireza de propor, em lugar do texto habitualmente argumentativo, um convite à reflexão. O ponto de partida são Manuel Maria Carrilho e o seu recente livro, Sob o Signo da Verdade. A forma baseia-se no aforismo. Convenhamos: não quadram mal um com o outro.
O título da obra e o modo como nela são apresentadas diversas ideias sem provas lembram-nos Vergílio Ferreira: “a verdade primeiro ama-se, depois demonstra-se”. Fala-se muito, ao longo do livro, dos interesses que terão existido em torno da eleição em Lisboa. A premissa subjacente é que “aquele que acreditar que o dinheiro fará tudo, pode bem ser suspeito de fazer tudo por dinheiro” (Benjamin Franklin).
Os críticos apontam, invariavelmente, o pendor narcisista do filósofo, professor catedrático, o que nos leva a Gilbert Cesbron: “a personalidade assemelha-se a um perfume de qualidade: quem o usa é o único que o não sente”. Aceitando, também, que “de todos os sentimentos, o mais difícil de dissimular é o orgulho” (Duque de Lévis). Os contra-críticos, esses, replicam prontamente: “a censura é o imposto da inveja sobre o mérito” (Lawrence Sterne).
Os episódios da campanha de Carrilho exigem La Rochefoucauld. O tão famoso quanto estrategicamente desastroso vídeo do “papá” recorda-nos que “a verdadeira eloquência consiste em dizer tudo o que é preciso e em só dizer o que é preciso”, enquanto a incoerência que se seguiu ao não aperto de mão a Carmona nos sugere que “o nosso arrependimento não é tanto um remorso do mal que cometemos, mas um temor daquilo que nos pode acontecer”.
Do debate Prós e Contras (RTP) acerca do tema, sobressaíram a táctica do “se não conseguis convencê-los, confundi-os” (Harry Truman) e a ausência de dialéctica – “a mente é como um pára-quedas: só funciona quando está aberta” (James Dewar). Digamos que a coisa foi interessante, mas demasiado belicosa. O que reclama, forçosamente, Aristóteles: “Qualquer pessoa pode encolerizar-se. É fácil. Mas encolerizar-se com a pessoa certa, no grau certo, no momento certo, pela razão certa e da forma certa - isso não é fácil”.
Churchil dizia que “um pessimista vê uma dificuldade em cada oportunidade; um optimista vê uma oportunidade em cada dificuldade”. Não sendo demasiado pessimista, ofereço o consolo mordaz de Oscar Wilde: “experiência é o nome que cada um dá aos erros que cometeu”.
E termino como comecei – abusando do leitor. Desta feita, para sugerir uma nova leitura dos aforismos propostos, individualmente, sem atender ao contexto. Porque um bom aforismo nunca é uma conclusão, mas um ponto de partida, uma provocação. Um convite à evasão – introspectiva –, que tem de valer por si só. Porque, dizia Jorge Luís Borges, “não há prazer mais complexo que o do pensar”.
Em pleno Verão, permitam-me a ligeireza de propor, em lugar do texto habitualmente argumentativo, um convite à reflexão. O ponto de partida são Manuel Maria Carrilho e o seu recente livro, Sob o Signo da Verdade. A forma baseia-se no aforismo. Convenhamos: não quadram mal um com o outro.
O título da obra e o modo como nela são apresentadas diversas ideias sem provas lembram-nos Vergílio Ferreira: “a verdade primeiro ama-se, depois demonstra-se”. Fala-se muito, ao longo do livro, dos interesses que terão existido em torno da eleição em Lisboa. A premissa subjacente é que “aquele que acreditar que o dinheiro fará tudo, pode bem ser suspeito de fazer tudo por dinheiro” (Benjamin Franklin).
Os críticos apontam, invariavelmente, o pendor narcisista do filósofo, professor catedrático, o que nos leva a Gilbert Cesbron: “a personalidade assemelha-se a um perfume de qualidade: quem o usa é o único que o não sente”. Aceitando, também, que “de todos os sentimentos, o mais difícil de dissimular é o orgulho” (Duque de Lévis). Os contra-críticos, esses, replicam prontamente: “a censura é o imposto da inveja sobre o mérito” (Lawrence Sterne).
Os episódios da campanha de Carrilho exigem La Rochefoucauld. O tão famoso quanto estrategicamente desastroso vídeo do “papá” recorda-nos que “a verdadeira eloquência consiste em dizer tudo o que é preciso e em só dizer o que é preciso”, enquanto a incoerência que se seguiu ao não aperto de mão a Carmona nos sugere que “o nosso arrependimento não é tanto um remorso do mal que cometemos, mas um temor daquilo que nos pode acontecer”.
Do debate Prós e Contras (RTP) acerca do tema, sobressaíram a táctica do “se não conseguis convencê-los, confundi-os” (Harry Truman) e a ausência de dialéctica – “a mente é como um pára-quedas: só funciona quando está aberta” (James Dewar). Digamos que a coisa foi interessante, mas demasiado belicosa. O que reclama, forçosamente, Aristóteles: “Qualquer pessoa pode encolerizar-se. É fácil. Mas encolerizar-se com a pessoa certa, no grau certo, no momento certo, pela razão certa e da forma certa - isso não é fácil”.
Churchil dizia que “um pessimista vê uma dificuldade em cada oportunidade; um optimista vê uma oportunidade em cada dificuldade”. Não sendo demasiado pessimista, ofereço o consolo mordaz de Oscar Wilde: “experiência é o nome que cada um dá aos erros que cometeu”.
E termino como comecei – abusando do leitor. Desta feita, para sugerir uma nova leitura dos aforismos propostos, individualmente, sem atender ao contexto. Porque um bom aforismo nunca é uma conclusão, mas um ponto de partida, uma provocação. Um convite à evasão – introspectiva –, que tem de valer por si só. Porque, dizia Jorge Luís Borges, “não há prazer mais complexo que o do pensar”.
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