quinta-feira, abril 17, 2008

Artigos publicados

65. Para além do indivíduo ................. 16-04-2008
64. Uma liberdade ocidental .............. 02-04-2008
63. Renovação: uma miragem? .......... 19-03-2008
62. Salário mínimo (II) ..................... 05-03-2008
61. Salário mínimo ............................ 20-02-2008

60. Tempo de reflectir ...................... 06-02-2008
59. O fumo dos outros (II) ................ 23-01-2008

58. 'Citizen' Cadilhe ........................... 09-01-2008
57. Uma estrela em 2007 ................. 22-12-2007
55. Para quê tantos licenciados? ........ 28-11-2007
54. Morta à nascença ......................... 14-11-2007
53. Ética e rendas económicas .......... 31-10-2007
52. Os encantos de Che ..................... 17-10-2007
51. “Abu Ghraib” dos pequeninos .... 03-10-2007

50. “Os melhores” ............................ 19-09-2007
49. Novas oportunidades? ............... 05-09-2007
48. Credibilidade ............................. 22-08-2007
47. Repensar o PEC ......................... 08-08-2007
46. Plataforma liberal ...................... 25-07-2007
45. O direito à indiferença ............... 11-07-2007
44. Racionalidade encarcerada ....... 27-06-2007
43. Contas individuais ..................... 30-05-2007
42. Mediocridade e policiamento .... 16-05-2007
41. Taxa plana, taxa óptima ............ 02-05-2007

40. Arquivar o inconveniente ......... 18-04-2007
39. O admirável mundo da Ota ....... 04-04-2007
38. Alternativas liberais .................. 21-03-2007
37. Da selecção amostral ................ 07-03-2007
36. Do voto estratégico ................... 21-02-2007
35. Uma excepção ponderada ........ 07-02-2007
34. 7 x Sim ...................................... 24-01-2007
33. Saber incentivar ....................... 10-01-2007
32. Rigor criativo ........................... 27-12-2006
31. “Na margem” ............................ 13-12-2006

30. Conluio nas entrelinhas ............ 29-11-2006
29. Realismo e incoerências ........... 14-11-2006
28. Afinar a pontaria ...................... 31-10-2006
27. Um problema, dois desafios ..... 18-10-2006
26. Mudar um paradigma ............... 04-10-2006
25. Licença para pensar ................. 20-09-2006
24. O retorno das regras ................ 06-09-2006
23. Sob o signo do Aforismo .......... 23-08-2006
22. O desafio da especialização ..... 09-08-2006
21. Borges, A. ............................... 26-07-2006

20. A incerteza de julgar ............... 12-07-2006
19. O fumo dos outros ................... 28-06-2006
18. Ondas de paixão ...................... 14-06-2006
17. Da bondade da gorjeta ............. 31-05-2006
16. "Electrólise" ............................. 17-05-2006
15. O valor da escassez .................. 03-05-2006
14. Fora de mão ............................. 19-04-2006
13. A minuta .................................. 05-04-2006
12. Quotas e subsídios .................... 22-03-2006
11. Deficiências .............................. 08-03-2006

10. As caricaturas e o sagrado ........ 22-02-2006
9. Casamentos e seguros ................ 08-02-2006
8. Uma questão de coragem ........... 25-01-2006
7. O dever do próximo PR .............. 11-01-2006

6. Apostas e expectativas ............... 28-12-2005
5. SIDA e Economia ........................ 14-12-2005
4. O poder das sondagens (II) ........ 30-11-2005
3. O poder das sondagens (I) .......... 16-11-2005
2. Os limites do consenso ............... 02-11-2005
1. A teoria do (des)encontro .......... 19-10-2005

quarta-feira, abril 16, 2008

Para além do indivíduo

O ‘team resoning’ é uma característica essencial do homem, concomitante da identificação grupal, e influenciada pelo modo como evoluímos.

Um “dilema de prisioneiros” é qualquer situação estratégica em que: (1) os agentes podem cooperar ou não; (2) cada agente prefere, para cada hipotética escolha do outro, não cooperar; (3) o resultado de não cooperação é inferior ao de cooperação. Exemplos disto são a corrida às armas ou a publicidade na indústria tabaqueira. Cooperando, obter-se-iam diferenciais no poder dissuasor de cada parte e níveis de vendas semelhantes aos de não cooperação, mas com menos custos. Na vida real, muitos indivíduos cooperam em situações deste tipo. Será racional? Michael Bacharach responde que sim, com base na ideia de “team reasoning”, exposta em “Beyond Individual Choice, Teams and Frames in Game Theory”.

Um indivíduo ‘team reasons’ quando, identificando-se como parte de uma “associação”, se interessa antes de tudo pelo resultado óptimo para essa associação, pensando depois na forma como deve agir para que esse resultado seja alcançado. A componente deontológica é importante; o individualismo metodológico é desafiado. Havendo ‘team reasoning’, a agência primordial cabe ao conjunto de indivíduos, não a cada um. Num dilema de prisioneiros, ambos percebem (e aqui entra o ‘framing’: importa a forma como os indivíduos “lêem” cada “jogo”, que é mais do que uma mera colecção de ‘payoffs’) que aquela situação convida à pergunta “como devemos agir?”, e não “como devo agir?”, tornando o resultado cooperativo menos surpreendente.

Um indivíduo ‘team reasons’ quando, identificando-se como parte de uma “associação”, se interessa antes de tudo pelo seu resultado óptimo, pensando depois na forma como deve agir para que ele seja alcançado.

O “team reasoning” só relevará em algumas situações sociais. Note-se que nunca está em causa diminuir a liberdade do agente, obrigá-lo a fazer parte de um grupo. Os contributos de Bacharach pertencem ao domínio do positivo, não do normativo. Resultam de uma reflexão que abrange os campos da filosofia, biologia, psicologia, economia, antropologia e sociologia. Bacharach sugere que o ‘team resoning’ é uma das características essenciais do homem, concomitante da identificação grupal, e largamente influenciada pelo modo como evoluímos.

Do ponto de vista político, são ideias que reforçam a atractividade de um liberalismo comunitário face a um liberalismo atomista – um tema que seria interessante explorar, mas outros projectos chamam por mim. Despeço-me aqui dos leitores, agradecendo a atenção e os comentários. Agradeço também ao Martim Avillez Figueiredo, pelo desafio que me lançou há dois anos e meio para escrever neste jornal, e ao André Macedo pelo incentivo a continuar. Ao Ricardo da Costa Nunes, sempre disponível e inteligente, um particular obrigado.

quarta-feira, abril 02, 2008

Uma liberdade ocidental

Portugal pode, a seu tempo e de forma cautelosa, equacionar a regulamentação da eutanásia voluntária, e apenas desta.

Numa óptica liberal, faz tão pouco sentido penalizar o “suicídio” como o “suicídio assistido”. Tratando-se, em qualquer dos casos, de uma decisão consciente de um adulto, o segundo difere do primeiro por nele participar uma terceira pessoa – de livre vontade. Uma variante do suicídio assistido é o “testamento vital”, em que o indivíduo indica, em antecipação e por escrito, a forma como deseja ser tratado em contingências futuras (sendo desejável que se exija uma actualização assídua de tal contrato). A punição de qualquer destes casos de “eutanásia voluntária” – ilustrada em filmes como “Mar adentro” ou “Invasões bárbaras” – implica juízos paternalistas – que rejeitamos.

No pólo oposto está a “indução da morte”, em que a morte é causada por um terceiro (médico, parente, amigo), sem autorização explícita para tal. (Com as muitas diferenças que separam as duas situações, o “abate misericordioso” de animais em sofrimento encaixa-se nesta categorização). Muitos equivalem-na a um assassínio. Ninguém tem direito a dispor da vida de uma outra pessoa. A aceitação deste tipo de “eutanásia involuntária e agressiva” introduziria uma arbitrariedade preocupante em qualquer sistema, agravada no nosso caso, se pensarmos no abandono e na falta de autonomia dos nossos idosos e no estado “de tanga” em que continuamente navegamos. Nem pensar, portanto, em legalizar esta forma de eutanásia.

A punição de qualquer caso de “eutanásia voluntária” – ilustrada em filmes como “Mar adentro” ou “Invasões bárbaras” – implica juízos paternalistas – que rejeitamos.

Entre os dois extremos atrás descritos encontra-se a decisão de diminuição do uso de terapias que prolongam a vida de um doente. Eticamente, é legítimo que um médico ajuste a terapia de um doente, tendo em conta o seu sofrimento. Realisticamente, essa é a prática corrente – e milenar – entre os médicos. Este tipo de “eutanásia involuntária e passiva” não carece de qualquer alteração.

Em suma, Portugal pode, a seu tempo e de forma cautelosa, equacionar a regulamentação da eutanásia voluntária, e apenas desta. Note-se que, uma vez que é o próprio a realizar o acto desejado ou a requerê-lo inequivocamente, a pressão externa por motivos egoístas fica minimizada, sendo leviano falar em “cultura de morte” nesse contexto. Defender que a vida é um dom divino e que nenhum homem tem direito a tirá-la é uma opinião aceitável na esfera privada, mas impô-la na esfera pública é próprio de certos países islâmicos, não de democracias liberais ocidentais. A dignidade de cada um implica o direito à sua própria vida.